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terça-feira, 1 de outubro de 2013

infinito



Sinto todas as camadas do meu corpo se deslocarem desta atmosfera, todos os sons são totalmente confusos e indecifráveis. Todos os objetos tornaram-se algo que não posso mais tocar.
O que vejo agora são cinzas de tudo que não pude concretizar. Tudo que deixei de fazer e executar foi incinerado em um gigante container imaginário.
As vestes que aqui eram tão coloridas e vivas, “perderam” todas as cores e algumas até sumiram também.
Quando olho para algumas direções, não vejo mais alguns rostos e corpos, que aqui pairavam como simples parasitas... Talvez sentiremos falta... Ou não...
Minhas poesias não existem mais em cadernos e registros. Sempre que olho para o alto, vejo-as estampadas nas nuvens, na lua, no sol e às vezes sinto as mesmas na forte brisa que aqui passa.
outros momentos que tive não recordo, restos dos outros sorrisos que havia guardado apodreceram, olhos que lacrimejavam agora sempre secos, bem como o chão árido de terras distantes que não quero conhecer e não conheci, mas ouço falar e às vezes sinto o cheiro daquela mesma terra quando chove aqui.
Sem muitos detalhes correlação este lado. Infelizmente todos os sabores que conhecia realmente perderam-se aos ventos matinais e agora nunca mais encontraremos.
Palmas agora vejo que são proibidas de verdade e o silêncio tem um valor descomunal e verdadeiramente importante. Nesta terra onde não paira mais cores, raças, credos etc.
Tecnologias infinitas, calamidades, rotinas... Tudo se rendeu ao grande dilúvio, aquele que acreditávamos ser algo fora da realidade.
Tudo agora possui formas indescritíveis, cores imaginárias e os nomes que possuíam tanta serventia e importância, não existem mais.
Dores, aflições, impulsos, vontades, alguns sentimentos bons e ruins, marcas e rótulos, temperaturas, distinções, línguas... Tudo realmente foi dizimado.
Lamentável que muitas faces não tiveram força para alcançar tudo isso aqui e como não tivemos autorização para fazer com que isso acontecesse. Neste momento perdemos os movimentos dos olhos, bocas, braços, pernas e troncos e nada pudemos fazer, somente observar sem reação.
Abaixo de uma árvore, permaneço sentado, olhos serrados e essas palavras são resultados de uma grande história que deixaram e autorizaram o compartilhamento.
Queria poder descrever detalhadamente tudo que aconteceu até que chegássemos aqui entende?
Enfim... Vou ali aos afazeres do dia. Sim... Trabalho meus caros até mesmo aqui temos que trabalhar... A diferença é que aqui é prazeroso, incansável e infinito.
Sapo______________________________________ 01.10.2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"amanhã vai ser maior"





Pintaram-se os rostos, as mãos e ao mesmo tempo o espírito. Abriram-se as mentes e começaram acordar de um sonho, onde o contexto não era tão agradável nem ao menos confortável.
Nas faixas vemos frases, cores e muito sentimento. Milhares de punhos fechados vão em direção ao céu fazendo complemento aos gritos de protesto que saem das outras milhares de bocas.
A pé mesmo, chegam vários... Do metrô mais um bocado e dos coletivos públicos mais ainda.
Deixamos de ser somente um cidadão ou dois cidadãos para sermos apenas uma voz e uma só vontade. Deixamos os documentos e crachás para outra ocasião, pois agora, nada disso nos  importa ou será usado.
Alguém viu fumaça... Seria uma fogueira indígena? Um ônibus? Ou apenas Eles com centenas de gases enlatados, querendo mais do que a simples “justiça”?
Ouvi falar que aqui há cavalos e uma tal de cavalaria também. Disseram que já vêm outros vestidos de preto e mais alguns que fizeram questão de “esquecer” seus sutaches em suas casas.
Máscaras, gritos de desespero, sirenes, capacetes e desmaios... Flashes dos fotógrafos que registram tudo aquilo que não conseguimos ver no momento.
A correria é sempre constante e sempre perdemos a conta de quantas vezes ficamos cegos.
Não vemos sorrisos, não ouvimos de onde vêm as vozes, mas todas as vozes agora podem ser ouvidas.
Disseram: “Vem pra rua!”
gritaram: “Fora Fulana!”... “Queremos mais disso e menos daquilo”. Quebraram a mesmice e agora somos mais do que temidos.
Alguns querem usar esse nosso poder para queimar a nós mesmos... Não causaram efeito pelo fato de não terem força o suficiente para isso.
Os Homens de preto e os outros colegas pensam que dominam a situação... Paramos por hoje e vamos nos preparar para que amanhã seja melhor, ou melhor, “amanhã vai ser maior” e amanhã vai ser melhor.
Somos da terra, onde cantam os sabiás...
Somos de um lugar, onde nem todos os sonhos foram concretizados e nem todas as crianças nasceram por falta de estrutura dos hospitais...
Somos daqui mesmo, do terceiro mundo ou submundo, onde os ratos ainda são pequenos e as cobras são rainhas às vezes...
Somos de uma casa, onde Eles querem jogar um pano branco encima de todos nós e em todo esse contexto...
De um país onde a Copa do Mundo foi executada e como troco, devolvemos uma salva de vaias.
Somos agora de uma terra, onde não calamos mais e esses vinte centavos poderiam ser o troco de bala e não o motivo de tanta bala, mas não são só vinte centavos... São as nossas balas e os nossos sonhos que eles querem roubar, juntamente com o nosso direito de viver, que pelo que vemos e vimos a algum tempo, nunca tivemos ou não tínhamos .

sapo________________________________________ 10.07.2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

minha rainha


Grande parte do meu sucesso (na verdade quis dizer todo) baseia-se nela: Minha querida, dona do maior coração deste mundo, aquela que teve coragem, disposição e amor para me carregar durante aqueles nove meses. Não me cobrou nada e nada me cobrou, mas, mesmo assim sinto que tenho um débito eterno com ela.
Ela, aquela que eu dedico a minha inspiração diária e eterna. Pois se sou o que sou, quero ser ou vou ser um dia será graças a ela. Se sou grande, devo a ela... Se sou forte, devo a ela... E se algum dia eu vou viver bem devo e deverei a ela também. Se nasci algum dia e se eu for viver com alegria nessa minha vida de alforria... Grato a ela sempre serei.
me ensinou a escrever, linha histórias, fazia bolo de chocolate e pão de queijo. Às vezes me lembro que por causa de uma travessura ganhava uma bronca, uma palmada... Mas tudo acabava assim mesmo, com um pedido de desculpas minhas, um abraço e um beijo. “prometo que não faço mais tá?”.
Me mostrou que posso ser um cantor imbatível aos banhos de chuveiro e que nenhum monstro que brotava do escuro poderia me atacar se tivesse protegido pela coberta macia e cheirosa que tenho guardada até hoje com tanto carinho...
Chegava do colégio cheio de saudades, com a cabeça cheia de novidades para poder compartilhar e somente seu nome eu gritava: “...”!
Vinha ela sorrindo e com seu rosto corado pela alegria em me ver: “vamos almoçar?”. E eu fazia dengo, só pra ter ela mais perto e a ver brincando comigo, fazendo aviãozinho com a comida.
Finais de semana a gente dava um banho no totó e comprava algodão doce com o “tio do algodão doce que tinha buzina”.
Todos os dias agradeço por ter aberto os meus olhos nas horas mais necessárias, por me corrigir nas horas exatas, por me advertir com antecedência e por compartilhar meus aprimoramentos, tristezas e degraus, vitórias e sementes que plantei, que hoje sempre que colho só penso em você.
Acredito que Dia das Mães, são todos os dias e não existe presente neste mundo que possa se comparar com a alegria que tenho em ter-te ao meu lado todos os dias ou ter tido você na minha vida. Mas cada um pensa de uma forma né?
Suas orações, sempre tão fortes e rígidas me fizeram ver um mundo que muitos não conseguem ver ou crer. E com toda certeza essas mesmas orações sempre chegaram até mim, pois sempre que me sentia em um buraco, só pensava em suas palavras e no final tudo se confortava.
Por me fazer uma pessoa capaz de cuidar de você agora, pois, sei que ainda vamos precisar muito um do outro. Eu vou tropeçar, mas você estará aqui do meu lado, materialmente ou não... A senhora vai ter duvida sobre algo e eu estarei aqui sempre. Quando eu sorrir e nossos olhos estiverem abarrotados de lágrimas, nossas testas iram franzir, um Abraço vou lhe dar e somente calado ficaremos...
Mas agora, gostaria que a senhora sentasse aqui e experimentasse esse humilde bolo de chocolate que fiz para você com tanto carinho. Espero que goste, não chega perto daquela que fazia para mim aos finais de semana, mas, foi feito com muito esforço e carinho e deu um trabalho pesado para ele sair assim tão fofinho.
A... Só um minuto, que o tio do algodão doce vem lá na ponta da rua. Quer qual cor?

sapo_________________________________________________20.06.2013


segunda-feira, 4 de março de 2013

despedida de um militar



Hoje é um dia muito especial pra mim, o dia em que finaliza-se um sonho brotado num jovem brasileiro que almejava servir a Pátria como um militar das forças armadas do Brasil.
Jamais imaginei que as coisas aconteceriam dessa forma, o começo foi muito estranho, difícil, cansativo, fatigante, onde muitas novas atividades fariam parte da minha rotina e muitos “estranhos” f
ariam parte da minha vida, onde todas as instalações teriam histórias de acontecimentos marcados, foi intenso! Posso afirmar com toda certeza que passei aqui por vários momentos memoráveis, dentre os quais alguns dos melhores momentos da minha vida até aqui. Fiz colegas, amigos e irmãos, muitos dos quais com absoluta certeza estarão me acompanhando pelo resto de minha vida, o que é um motivo de muita alegria pra mim. Esse é um momento muito especial! É hora de olhar minha jornada e ver tudo o que já passei. Sem dúvida, muitas tristezas, conflitos, cansaço, sono, fome, sede, fadiga, que sempre foram superados pela força que o meu Deus desenvolvia no meu coração, mas, felizmente passei também, por inúmeros bons momentos, de alegria, de vitória, de superação e de cumprimento de missão.
Devo apagar da memória aqueles que tentaram me prejudicar, que desacreditaram e agradecer àqueles que sempre elevaram o meu moral, que bateram no meu ombro, me fizeram levantar a cabeça e me empurraram pra frente. Essa é a hora de fazer menção e valorizar as amizades e os conhecimentos adquiridos na caserna, que não foram poucos.
Afasto-me do serviço ativo do Exército Brasileiro, mas levo comigo no meu coração um pedaço de cada um que participou de minha pequena jornada.
Aos que ficam desejo toda sorte na carreira militar e àqueles que almejam fazer parte das fileiras do Exército Brasileiro, que sejam bem - vindos e considerem essa instituição como parte de seus lares, pois aqui constituímos uma nova família, a família Verde Oliva.
Ao olhar a Bandeira mais uma vez num fim de tarde e com os olhos cheio de lágrimas prestar minha ultima continência no serviço ativo, agradeço ao Brasil por ter aberto para mim essas portas e me dado a honra de servi-lo com braço forte. Não tenho certeza se poderia ter feito melhor, mas acredito que fiz o melhor que pude. Como um eterno militar dobro minha farda “vincada” e penduro meu coturno engraxado outra vez, mas desta vez, como a ultima vez, e posso ainda suspirar tranqüilo por mais uma vez com um sentimento que é exclusivo do bom e disciplinado militar, o sentimento de MISSÃO CUMPRIDA!
BRASIL ACIMA DE TUDO!



  
Texto escrito por

ex 3º Sargento Evando [ Exército Brasileiro]
Brasilia – DF 28, de fevereiro, de 2013
Texto de sua formatura de despedida (baixa) das forças armadas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

sorrisos



Alguns recheados de alegria, outros entupidos de inocência, cada um carregando um sentimento que às vezes é assim...  Tão complexo de desvendar sabe?
Tão bonito quando, mesmo chorando o sorriso aparece, demonstrando superação, vitória, conquista, orgulho de ser o que é. Nessa hora tudo para e o tempo congela para que a lágrima percorra todo o rosto e ao final quando ela cair ao chão, todas as barreiras somem e o suspiro e dever cumprido ecoa no ar.
aparições de sorrisos dotados de dúvidas infinitas: Sarcasmo, deboche, dúvidas, espanto, viagens internas e em locais sem fim, desespero... Quais deles? Ao certo também ainda não sei explicar.
Cérebros apagados de algo ilícito, fazem surgir sorrisos que mostram outro mundo, outra terra, outras vontades e sonhos perdidos, outro astral etc. E quando este mesmo sorriso tem a capacidade de salvar vidas, dias famílias, lugares e nem ele mesmo sabe disso. Coitado. É o mesmo que traz segurança, afinidade e mostra também para todos dessa terra o quanto é possível estar tão bem em momentos tão delicados, onde sorrir parece ser a última coisa que se possa fazer. Tudo se  transforma em sorrisos e gargalhadas ao final, mesmo com toda essa calamidade mundana.
Com batons, sem alguns dentes, de aparelhos, murchos, amarelados, ou até mesmo sem dentes... Sei lá, cada um tem o seu: Carente, abobalhado, encantador, indecifrável... Mas, seja lá o que for não deixe de sorrir e nem de chorar, pois nada nessa vida pode vetar esse seu direito: O de expressão.

sapo___________________________________ 22.02.2013




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

caos




Todos os sons somem, algumas pálpebras se fecham sozinhas e o calor aumenta a cada segundo.
o sol já desapareceu dando lugar uma lua tão linda, grande e amarelada, mas ao mesmo tempo o céu enche-se de nuvens escuras e grandes e nelas eu vejo figuras nunca vistas trazendo o grito da finalização. Não sei dizer se é um berrante ou algo do tipo, mas a cada toque executado, milhares caem de tanta fraqueza adquirida.
Já consigo voltar a ouvir algo, as lágrimas que caem dos rostos em direção ao chão são mais quentes que o próprio verão e não chegam a cair no chão, evaporando de tanto medo. Alguns dos pares de joelhos se curvam em direção ao solo em sinal de rendição, mãos são erguidas aos céus, mas de nada adianta para eles.
Gritos de dor e piedade ecoam por toda parte e eu preferiria ficar sem audição neste momento. Jovens, adultos e crianças, todas em um mesmo segundo sendo dizimados e tomados pelo final de uma história incompleta. O que mais assusta é poder escutar os gritos das pessoas indefesas como, por exemplo, as crianças de colo. Interessante que os animais tomaram a capacidade de diálogo com os humanos e junto a todo caos vão sumindo aos poucos também.
De nada o dinheiro valeu à pena, de nada os presentes valeram à pena, por tão pouco os casamentos e conquistas nem um abraço e um beijo poderá ser dado ou recebido... Tudo retirado por uma legião de seres místicos que aparecem a cada momento mais e mais... Encapuzados, flamejando, montados em grandes quadrúpedes portadores de chifres e asas e dotados de uma casca quase que rocha, que no final substituiu o que conhecíamos por couro...
Alguns em uma tentativa não sucedida ainda tentam correr, deixando tudo para trás, inclusive suas vidas que vão sumindo a cada passo. Caem assim mesmo: De face no chão como sempre fizeram por toda a vida, só que agora será por toda a morte, quebrando tudo que lhe têm direito inclusive seus espíritos, que agora vão sumindo juntamente com as nuvens escuras e a linda lua que agora parece estar maior e mais brilhante.
Pecadores e não pecadores misturados como areia na peneira, sem distinção de hierarquia, idade ou qualquer coisa que seja. Braços, pernas, membros, lembranças e o resto todo, são decapitados sem muita força e sem muita pressa.
Não existem mais águas, flores, sabores, cores, línguas... Tudo se revertendo em pó, estilhaços, ficção e falta de audição que é o que torno a sentir... Só enxergo tudo e nada consigo dizer, pois as palavras escritas e discursos pronunciados de nada vão adiantar agora... E nunca mais.
Eu aqui parado estático... Quase sem respirar ou quase sem batimentos cardíacos, boquiaberto com toda essa bagunça... Pra falar a verdade a minha vida foi um livro lindo, onde todas as linhas escrevi com vontade, certeza e dignidade... Não vou me preocupar tanto assim...
Deu uma vontade de deitar nesse chão quente sabe? Pensar na quantidade de pessoas que eu pude fazer feliz... Abrir os braços, com a nuca estendida no chão e com um belo sorriso ver o final disso tudo já que agora não tenho mais corpo e tudo que me sobrou foi a gratidão.
Lá vem mais uma rajada do barulho assassino, mais uma legião de figuras brotando do chão quente e uma onda de fogo que agora cobriu tudo...

sapo _______________________________________01.02.13